O cenário hidrológico desfavorável no Brasil nos últimos anos, que tem mantido reservatórios abaixo da média histórica e forçado o país a acionar usinas termelétricas para complementar a geração de energia, deve continuar em 2021. Isso significa que as tarifas também devem permanecer altas na maior parte do ano.
Especialistas ouvidos pela CNN não preveem, no entanto, que pelo menos a curto prazo, o país possa enfrentar uma crise de geração de energia que leve a cenários extremos.
“O setor é muito ancorado em hidrelétricas, com uma capacidade hídrica instalada de 62%. Isso tem várias vantagens, como o fato de ser uma energia limpa e ter um custo de operação muito baixo. Por outro lado, ficamos dependentes das chuvas e em períodos de hidrologia pior, isso acaba refletindo nos preços”, diz Alexandre Viana, diretor da consultoria Thymos Energia.
Viana diz que esse impacto é sentido tanto no mercado livre de energia – em que contratantes negociam diretamente com os fornecedores as condições comerciais – quanto pelos consumidores residenciais, por meio das bandeiras tarifárias.
Já o professor do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, Pedro Côrtes, avalia que o principal problema é que este cenário de redução de chuvas nas regiões dos reservatórios das grandes hidroelétricas do país não é algo momentâneo.
Diante desse cenário, o Brasil recorre a fontes complementares de energia para garantir a produção no Sistema Interligado Nacional (SIN).
É aí que entram as usinas termelétricas, acionadas quando os níveis dos reservatórios das hidrelétricas estão baixos. Esses complexos são movidos a gás natural, carvão, óleo combustível e diesel. E isso aumenta o custo da geração de energia como um todo.
“O governo deve continuar favorecendo os investimentos em setores elétricos renováveis e tentar substituir térmicas caras por sistemas com preços mais baixos. Se fizer isso corretamente em 2021, 2022 e 2023, podemos ter uma distribuição mais normalizada mais adiante”, completou.
Como a construção de novas usinas hidrelétricas se tornou mais difícil por uma série de fatores – como a intenção do governo de privatizar a Eletrobrás e restrições ambientais e de licenciamento em terras indígenas –, o Brasil precisa diversificar a matriz energética do SIN.
Nesse sentido, têm ganhado mais espaços outras fontes de energia limpa, como as usinas eólicas e solares. Essas duas fontes, no entanto, representam apenas 11,4% e 0,8%, respectivamente, da produção atual no país.
Em 2015, o governo criou o sistema de bandeiras tarifárias para indicar aos consumidores quando há ou não acréscimo no valor da energia elétrica em função das condições de geração de eletricidade.
Quando as condições são favoráveis, a bandeira é verde e a tarifa não sofre nenhum acréscimo. Quando passam a ser menos favoráveis, a geração entra na bandeira amarela, que acrescenta R$ 1,34 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos.
Há ainda a bandeira vermelha que, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica, é acionada em “condições mais custosas de geração”.
Ela tem dois patamares: no primeiro, acrescenta-se R$ 4,16 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos. No segundo, essa sobretaxa é de R$ 6,24 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) de energia.
De acordo com cortês, nos primeiros cinco anos de vigência do sistema de bandeiras tarifárias, em 28 dos 60 meses (47% do total), o país esteve sob bandeira vermelha de patamar 1 ou 2 – as faixas mais caras de energia.
“Sempre que a bandeira vermelha é adotada, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) indica o motivo como sendo ‘Risco Hidrológico’ ou falta de chuvas nos reservatórios – que ficam com o nível muito reduzido”, afirmou.
No mesmo período, foram 11 meses na bandeira amarela (18%) e outros 21 meses (35%) na bandeira verde.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/business/2021/01/27/brasil-nao-deve-ter-falta-de-energia-mas-tarifas-devem-continuar-altas-em-2021
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